A ferramenta Blog, o youtube e a sociologia

Neste post, irei refletir sobre como os temas discutidos nas aulas de sociologia podem figurar em um blog e em canais do youtube, exemplificando o raciocínio por meio de uma proposta pedagógica para a matéria.

A ferramenta blog, no meu entender, realiza felizes combinações entre web 1.0 e web 2.0, como conceituadas por Marco Silva, em “Contribuições à formação da mediação docente para atuação em cursos online na web 2.0”. Tratando-se de sociologia, uma disciplina bastante dependente da capacidade de leitura e compreensão de textos por parte dos alunos, mas também da habilidade dos mesmos em decifrar os contextos sociais e examinar de perto o modo como diferentes questões sociais são vividas pelas pessoas, o blog parece assumir o formato adequado para tais demandas. Isso porque ele convida à leitura concentrada, pelo modo como o texto é apresentado, ao mesmo tempo em que se abre à co-criação, mediante a seção de comentários ou caixas de hiperlinks, onde podem estar presentes os mais variados conteúdos, fornecidos pelos autores do blog ou pelos próprios leitores, conteúdos esses que podem refletir a capacidade de conceitos abstratos em explicar realidades concretas (em assuntos da atualidade, por exemplo), demonstrando a validade explicativa das noções aprendidas.  

Essa ferramenta pode ser combinada a outra, como o videocast. Pode-se pensar assim em um canal no youtube com vídeos semanais, apresentados pelos tutores a distância da disciplina, explicando, por meio de gráficos, diagramas, desenhos, tabelas, fotografias, músicas, imagens, reportagens, etc., conceitos e ideias que são mais abstratos e mais complicados de serem descritos apenas por texto. Os vídeos podem inclusive incrementar a interatividade com o público sugerindo que os internautas postem as suas impressões na seção de comentários.

O número de positivações/negativações no youtube, ou as curtidas e compartilhamentos de uma postagem ou vídeo divulgados via facebook, por exemplo, forneceriam um bom termômetro da qualidade, receptividade e potencial de discussão gerados pelo assunto tratado. 

Pode-se pensar assim em uma estratégia didática onde os tutores a distância publicam o conteúdo da aula diretamente no blog, na forma de postagem (um resumo de determinada teoria, por exemplo, ou a apresentação de uma pesquisa). A interação com os alunos dar-se-ia através dos comentários ao post. Nesses comentários os estudantes seriam avaliados quanto ao seu grau de entendimento do conteúdo apresentado. Mas não fica aí. Essa participação poderia extrapolar o blog. Além da intervenção obrigatória no setor de comentários, cada aluno poderia compartilhar a postagem em suas redes sociais pedindo a colaboração de seus amigos virtuais na discussão do tópico da vez. 

Em relação ao videocast no youtube, a proposta é que os tutores a distância publiquem seus próprios vídeos no canal do youtube ligado ao blog, e consigam, por meio dessa ferramenta, estabelecer uma interação de maior proximidade com os alunos, através, por exemplo, de enquetes, onde alguma questão é levantada e, de acordo com as respostas fornecidas pelos alunos, alinhadas na seção de comentários do vídeo, uma planilha é gerada e apresentada no vídeo seguinte, contendo não apenas a quantificação comparativa das respostas fornecidas, como também uma análise dos padrões de respostas, com base em algumas variáveis previamente apresentadas; ou de perguntas e respostas, por meio das quais o tutor indaga aos internautas a respeito das experiências pessoais deles em determinado assunto, compondo assim um verdadeiro mosaico das possibilidades de apresentação individualizada das forma de lidar, experimentar e enfrentar os mais diversos fenômenos sociais. A título de exemplo podem ser discutidos: racismo, gênero, relações de classe, identidade, conflitos, etc.

A ferramenta blog aqui delineada é livremente inspirada no blog “Café com Sociologia”, no link abaixo:


O blog contém textos e podcasts, com conteúdo, produzido pelos seus autores, ligado aos grandes temas da sociologia e a assuntos políticos e sociais da atualidade; realiza sorteios de brindes que incentivam a participação dos internautas em uma discussão construtiva na página do facebook do blog; apresenta links para filmes e músicas com temática sociológica, normalmente acompanhados de guias para a utilização dos mesmos em aulas de sociologia; fornece orientações didáticas, links para revistas acadêmicas, além de diversas outras ferramentas.

Tanto nesse exemplo como em minha proposta, fica evidenciado o potencial das estratégias didáticas ali presentes em servir não apenas de mero meio de transmissão de informação a um público passivo e sim como um espaço de construção coletiva de conhecimento. Os comentários nas postagens, por exemplo, modificam a leitura dos mesmos. Podem conter links para vídeos no youtube que até mesmo contradizem o conteúdo discutido e acrescentam camadas à discussão.  Os compartilhamentos no facebook expandem a visibilidade das postagens e atingem públicos mais amplos que os acadêmicos, tornando possível agregar outras visões, às vezes até mesmo discordantes. A interação mediada por computador on oline, pode, assim, numa era em que todos de uma maneira ou de outra são levados, pela pressão da conjuntura política e social, a opinar sobre os mais variados temas que tocam à sociologia, reafirmar a importância dessa ciência social. Isto é, já que, como dizem, “todo mundo se acha sociólogo” e ganha empoderamento nas redes sociais, torna-se bastante útil que os textos e conteúdos compartilhados sejam provenientes da própria área da sociologia, sistematicamente produzidos, e não meras intervenções opinativas. Contribuímos assim para a qualidade das discussões públicas.  

Já em relação à ferramenta videocast no youtube, cito aqui dois canais também consultados em minha pesquisa, e que acredito possuírem o potencial de geração de conhecimento colaborativo estudado nessa nossa etapa do curso.  Tratam-se dos canais “Prof. André Azevedo da Fonseca” e “Canal do Pirula”, ambos voltados à educação. Esses canais discutem não somente os temas que são de domínio dos dois youtubers (um professor de literatura e um paleontólogo), mas também, e principalmente, assuntos direta ou indiretamente ligados às ciências humanas em geral. Eles podem, portanto, servir de apoio em muitas aulas on line de sociologia.




https://www.youtube.com/watch?v=jdaPpLTtssU




https://www.youtube.com/watch?v=c1Wh2iaQkrQ

Esses canais, além disso, são exemplos de como é possível atrair um público vasto (o primeiro tem mais de 23.000 inscritos, enquanto o segundo tem mais de 450.000), mantendo a qualidade do conteúdo e a correção dos conceitos abordados. Os vídeos ali publicados são sempre baseados em pesquisas, possuem grande preocupação didática, muitas vezes citam livros, filmes ou outras obras para expandir as referências em que se basear para dar conta do que está sendo discutido no vídeo, além de outros recursos, inclusive visuais. Acrescenta-se que o processo de reflexão construído nesses canais é também colaborativo. Esse aspecto se revela na frequência com que esses vloggers publicam vídeos onde expõem como aperfeiçoaram ou até mudaram suas posições e avaliações presentes em vídeo anterior após lerem a seção de comentários dos internautas logo abaixo. Ou seja, é com frequência que os assinantes do canal ou outros internautas realcem aspectos não abordados ou até contradigam o exposto, lançando contra-argumentos, aprofundando o tema, iluminando outras faces da questão, citando autores, linkando textos, vídeos de outros vloggers de opinião complementar ou contrária ou até mesmo “vídeo-respostas” (um vídeo no youtube que nega os argumentos de outro vídeo). Isto é, esses vloggers constantemente reveem as próprias opiniões baseados justamente na receptividade e no conhecimento trazido pela sua audiência.

Esses são casos em que, para além dos trolls e memes inúteis, pode haver, sim, crítica construtiva na web.

E vocês? Acreditam que temas áridos e potencialmente polêmicos, geradores de tantas inimizades nas redes sociais, são adequados a ferramentas tão dinâmicas como o blog e o youtube? Ou essas questões seriam mais apropriadas aos canais mais clássicos da interação professor-aluno? Deixem seus comentários!

Comentários

  1. Olá, Marcos! Enquanto lia seu post, ia me lembrando do livro Vertigem Digital, de Andrew Keen. Keen é muito crítico à superexposição e à necessidade de reconhecimento que as interações nas redes de dados têm proporcionado. Porém, acho que o autor esqueceu de alguns detalhes importantes: "Os compartilhamentos no facebook expandem a visibilidade das postagens e atingem públicos mais amplos que os acadêmicos, tornando possível agregar outras visões, às vezes até mesmo discordantes", como você afirma. Sobre as polêmicas e inimizades que o uso de certas ferramentas pode provocar, fico com o professor Mark Prensky (em "Don't bother me, mom! I'm learning"): interagir online promove novas maneiras de ser, novas subjetividades. Acho que as polêmicas e o "desfazer" de amizades faz parte dessas novas composições do sujeito (aluno). Abraços!

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  2. Boa noite, Marcos! Seu post ficou muito interessante. A contextualização e entrelaçamento entre os tópicos abordados ficou bem dinâmico, esclarecedor, além de prender a atenção.
    Gostei bastante! Abraços!

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  3. Marcos, riquíssimo material, sugerindo excelente reflexão com o apoio das ferramentas digitais! Gostei muito do seu blog! Destaque para as suas sugestões de leitura. Parabéns!

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