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Nomadland, ou o espírito nômade do capital

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  Em Nomadland (terra nômade, em tradução literal), Fern se vê diante de uma situação difícil quando o marido morre e a empresa para a qual trabalhavam vem à falência durante a crise econômica de 2008. Ela é deixada literalmente sem chão, pois a casa em que morava era de propriedade de seu empregador, assim como todo o território que lhe fornecia as bases de sua experiência comunitária, uma “cidade empresarial” na zona rural de Nevada, Estados Unidos. Temos aí uma personagem que, se antes se fazia entregue às determinações de uma estrutura localizada a lhe definir o cotidiano, agora é levada a se repensar, a rever os fundamentos de seus valores. É como se ela refletisse: vale a pena ter como norte a fixidez, que se provou ilusória (dados os movimentos da economia), de um endereço definido em um lugar geográfico, ou será que o sentido não poderia ser buscado justamente naquilo que escapa da inércia, que se desloca, que não finca raízes? Eis o mote a partir do qual o filme desenvolve as

Análise pedagógica do filme “Doutor Gama”, por Bruna Bonfeld

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   Bruna Bolfeld, h istoriadora e professora   https://www.instagram.com/profhistoria_brunabonfeld/ O filme brasileiro “Doutor Gama” (2021), narra a história verídica do advogado Luíz Gama, negro, vendido como escravizado enquanto criança, mas que consegue na fase adulta comprovar o seu direito à liberdade, virando um advogado de prestígio e conseguindo defender causas importantes na justiça na segunda metade do século XIX em favor da causa abolicionista.  Muito se fala atualmente no ensino de história sobre a importância de se apresentar narrativas históricas em favor da causa negra, saindo do viés da escravização. Essa prática pedagógica seria importante para empoderar e conceder autoestima às crianças negras, a fim de que elas percebam em seus antepassados que lutaram por justiça, obtiveram sucesso e que portanto, elas também podem conseguir.  Porém pouco se faz nesse sentido, seja pela rigidez do currículo em história tradicional nas escolas, seja pela legítima falta de tempo do pr

O estigma e o desvio em Dias Melhores

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  Dias Melhores, filme de Hong Kong dirigido por  Kwok   Cheung   Tsang , candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2021 ,  traz à tona, numa  primeira observação , a questão do  bullying  como foco da trama. E esse é, sem dúvida, o principal reclame que o filme faz  aos seus telespectadores num primeiro plano. No entanto, todo o enredo deste tocante filme pode nos fazer pensar sobre algo que vem muito antes do  b ullying: o estigma.   O sociólogo  norte-americano  Erwin Goffman, em seu  livro  “Estigma – Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada” ,  demonstra como as sociedades, ao longo dos séculos, trataram de criar estereótipos daqueles  sujeitos  que devem ser considerados os seres humanos “normais” e, com isso, automaticamente, aqueles que não se enquadram nesse campo acabam sofrend o toda a sorte de discriminação – os estigmatizados. Entretanto, fica a pergunta  na contracapa do livro :  “ nessa forja de proscritos, quem verdadeiramente é marginal:  o s estigma